Ajuda Especializada ou Qualquer Ajuda: Será que Apenas a Vontade de Ajudar um Acumulador é Suficiente para de Facto Ajudá-lo? (Por Vanessa Tagliari)

Quem acompanha o tema organização nas redes sociais tem percebido um movimento diferente: uma “explosão” de influenciadores digitais que – seja porque gostam de limpar ou porque tem a limpeza como profissão – estão a promover vídeos de casas extremamente sujas e acumuladas que, após um processo de limpeza, surgem limpas e arrumadas. Em alguns casos, o trabalho é voluntário; em outros, é realizado um pagamento pela realização do mesmo.

Aparentemente, trata-se de uma iniciativa inofensiva e positiva, já que – em muitos casos – é a própria pessoa que contrata. Mas, o que será que este tipo de limpeza pode acarretar quando realizada em espaços de acumuladores compulsivos que se encontram em situação de acúmulo extremo?

Em um primeiro momento, devemos ter atenção e observar que a execução deste tipo de limpeza em casos de acumulação extrema, utilizando apenas produtos de uso doméstico, pode colocar em risco a saúde das pessoas. Nesse tipo de situação não é incomum encontrar dejetos de roedores ou mesmo os próprios roedores, baratas e semelhantes, assim como alimentos podres em armários e frigoríficos, casas de banho imundas e entupidas contendo restos de fezes e urina entre outros. Por esta razão, os produtos de limpeza que utilizamos no dia a dia não são recomendados.

Promover uma limpeza deste tipo de local – utilizando-se apenas PRODUTOS de uso domésticoNÃO promove de facto a limpeza adequada, deixando em sério risco a saúde física das pessoas que lá habitam ou frequentam. Ora, se realizar uma limpeza desta dimensão como casas de acumuladores compulsivos, fosse tão simples, não haveria tantas empresas especialistas ao redor do mundo, assim como é a DEATHCLEAN em Portugal, onde todos os técnicos são altamente treinados e todos os produtos são de uso específico e adequados para a remoção de resíduos tóxicos, como os geralmente encontrados em casas de acumuladores compulsivos.

Existe uma diferença entre limpeza, desinfeção, higienização, sanitização e esterilização, conforme explica o Portal dos Hospitais Brasil*:

Limpeza: É a remoção de sujidade simples de superfícies. Somente a limpeza não é suficiente para eliminar vírus e bactérias.

Desinfeção: Consiste na utilização de um desinfetante de uso geral reduzindo o nível de germes, vírus e bactérias.

Higienização: Entende-se por higienização uma limpeza efetuada após uma desinfeção.

Sanitização: Aplica-se mais à indústria alimentícia, pois prevê o uso de produtos específicos reduzindo o risco microbiológico. Não se aplica ao uso doméstico pois obedece a regras específicas de desinfeção.

Esterilização: É a eliminação total de germes, incluindo esporos, através de processos físicos ou químicos agressivos e com produtos de uso restrito.

Garantir que o espaço esteja em condições de uso é fundamental e isso somente poderá ser feito por profissionais capacitados para tal.

Além disso, também é de suma importância que nos preocupemos com a saúde mental e emocional das pessoas afetadas pela acumulação. O problema aparece quando esse tipo de ajuda fornece apenas a limpeza dos espaços sem oferecer previamente um rastreio para saber se a pessoa necessita de apoio psicológico – o que é fundamental em casos de acumulação extrema.

Recomenda-se também, trabalhar em conjunto com um organizador profissional especializado que poderá fornecer um processo de organização adequado para o individuo acumulador. Nestes casos é fundamental iniciar estimulando o poder de decisão, já que existem objetos pessoais que podem ter um grande valor emocional para uma pessoa e ser considerado “lixo” aos olhos de outra pessoa. Um profissional de organização não está ali para julgar estas decisões, mas para apoiar através de um método estruturado e com ferramentas adequadas.

Também é papel do profissional de organização ensinar a pessoa a classificar, descartar, categorizar e organizar seus objetos e memórias afetivas. Essa etapa é considerada fundamental e de extrema importância para que de facto o acumulador tome consciência do problema e consiga conviver e gerir de maneira saudável as suas emoções e os seus espaços após a limpeza. Desta forma, respeitando o tempo do cliente, as chances de uma nova situação de acúmulo diminuem.

Durante o processo, pode acontecer um conflito emocional da pessoa que acumula frente aos seus pertences no momento do destralhe. Cabe ao profissional de organização, capacitado para o atendimento destes casos, apoiar e até encaminhar o cliente para um atendimento especializado.

Já presenciamos casos onde a pessoa com comportamento acumulador decidiu procurar uma ajuda como esta e sem a orientação de um profissional, pois entendeu que seria a maneira mais rápida e fácil de “livrar-se” do problema, fugindo da etapa principal do processo que é o confronto consigo mesmo e suas emoções relacionadas aos seus pertences. O desfecho não foi nada positivo, pelo contrário, a decisão de deixar a equipa de limpeza trabalhar sem a sua presença e sem tomar decisões sobre o que ficaria e o que iria embora de sua casa e sua vida desencadeou  um sentimento de vazio profundo, angustia, sofrimento, insónia, desanimo e até mesmo depressão e crises de ansiedade.

Trabalhar com pessoas que acumulam é complexo e requer capacitação especializada, empatia, cuidado e muita paciência por parte dos profissionais que atendem a esta demanda. Não basta limpar, é preciso SABER CONDUZIR O PROCESSO, promovendo a desinfeção adequada do espaço e respeitando o emocional e o psicológico do indivíduo para que a saúde física e mental dos que lá habitam seja preservada de danos maiores. Não basta ATENDER, é preciso ENTENDER para AJUDAR.

As pessoas afetadas pela acumulação compulsiva precisam de um atendimento diferenciado e um cuidado maior. Por isso, não é recomendado fazer a intervenção de limpeza sem a participação da pessoa acumuladora, à exceção de não haver condições físicas e psicológicas ou por motivos urgentes de promover a limpeza do local ou, ainda, em caso de falecimento.

Promover limpeza de locais onde há acumulação sem se preocupar com o indivíduo e tudo o que envolve a sua permanência na casa, não contribui EFETIVAMENTE para que o problema da acumulação seja resolvido. Antes de pensar em ajudar um acumulador, procure sempre ajuda de profissionais especializados no assunto, pois pode significar a diferença entre AJUDAR ou PIORAR a situação da pessoa que acumula.

*Fonte: Portal dos Hospitais Brasil em artigo publicado em 28/05/2020.

Saiba mais em : DEATHCLEAN

Autora: Vanessa Tagliari – Consultora em Organização.

Consultora em Organização desde 2016, com certificação profissional comprovada e onde atualmente se encontra a especializar na resolução de problemas de desorganização crónica e acumulação excessiva.
A Vanessa, ajuda as pessoas a encontrarem a organização dentro de si através da organização dos espaços físicos. Saibam mais sobre o trabalho da Vanessa Tagliari em: Vanessa Tagliari – Organizadora Profissional

Contacto: vanessatagliariorganizadora@gmail.com ou +351 919 792 565

** Este artigo contou com a revisão e colaboração de: Adriana Schatz – Mentora em organização em Santa Catarina – BR (adriana@mapadaorganizacao.com.br).

 

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