Suicídio: cinco mitos a desconstruir
Por suicídio entende-se o ato de terminar, voluntariamente, com a própria vida. No que remete para Portugal, o suicídio pode estar próximo de ser visto como um problema de saúde pública, dado que a taxa de suicídio se encontra acima da média mundial, aproximadamente 10 em 100 000 habitantes.
Apesar disto, o suicídio continua a ser tabu na sociedade portuguesa. Os mitos subjacentes ao estigma social são um obstáculo para a prevenção do suicídio e para providenciar ajuda às famílias em luto. Desta forma, é importante combater os principais mitos associados ao suicídio, através do conhecimento.
Mito 1: As pessoas que ameaçam recorrer ao suicídio são incapazes de o cometer. São apenas tentativas de “chamar à atenção”.
Falso. Não raras vezes, as ameaças são reais e representam pedidos de ajuda. Desta forma, é importante dialogar com a pessoa acerca do seu sofrimento e ideias associadas ao suicídio, reforçando a existência de alternativas para alcançar o bem-estar, como é exemplo o recurso a ajuda psicológica. Se residir com a pessoa, é importante que seja retirado todo o material que possa ser utilizado para cometer o suicídio (por exemplo, facas, armas ou comprimidos). Essa precaução evita comportamentos impulsivos. Outra estratégia útil remete para contactar uma linha de apoio telefónica, como é exemplo a SOS Voz Amiga*. Em situações em que a pessoa não se encontra a ser acompanhada por um psicólogo, é imperativo pedir ajuda especializada com a maior brevidade possível.
Mito 2: O suicídio é um comportamento impulsivo e totalmente imprevisível.
Falso. Apesar do suicídio tender a ser cometido num momento de impulsividade, na maioria das vezes, este é planeado. Inclusive, são frequentes avisos e ameaças verbais, as quais tendem a ser ignoradas ou desvalorizadas.
Mito 3: As pessoas que cometem suicídio estão decididas a morrer.
Falso. A maioria das tentativas e alguns casos de suicídio consumado foram precedidos por chamadas telefónicas para linhas de apoio, o que revela ambivalência e reforça a ideia de que o suicídio pode e deve ser prevenido.
Mito 4: Quando uma pessoa revela sinais de um maior bem-estar ou sobrevive a uma tentativa de suicídio, está fora de perigo.
Falso. Um dos períodos em que existe um maior risco de suicídio é no período imediato à crise. Tome-se como exemplo o período em que a pessoa se encontra hospitalizada, na sequência de uma tentativa de suicídio ou a própria semana em que recebe alta clínica e regressa a casa. Por vezes, períodos de calma súbitos podem significar que a pessoa aceitou a decisão de cometer suicídio como a única alternativa para terminar com o sofrimento e encontrar-se a simular uma fase de maior bem-estar para concretizar o plano.
Mito 5: Dialogar sobre suicídio pode reforçar as ideias da pessoa em suicidar-se.
Falso. Dialogar acerca do sofrimento da pessoa e da ideia de recorrer ao suicídio para terminar com a dor pode reduzir a ideação suicida. Porém, para isto acontecer, o diálogo deve envolver os seguintes elementos: reconhecer o sofrimento da pessoa como real e avassalador; valorizar a pessoa em sofrimento e a importância da sua presença e vida; explorar alternativas para reduzir a dor que não o suicídio e, por fim, reforçar que o suicídio é uma solução permanente para problemas temporários.
Em suma, a prevenção do suicídio exige que exista diálogo. Apenas o conhecimento é capaz de desmistificar o medo, o tabu e os mitos, bem como promover os pedidos de ajuda das pessoas em sofrimento e das “famílias sobreviventes”.
*Linhas de Ajuda
SOS Voz Amiga
Horário: Diariamente, das 16h às 24h.
Contactos: 213 544 545; 912 802 669; 963 524 660
Linha Verde Gratuita – Entre as 21 e as 24 horas – 800 209 899
Conversa Amiga
Horário: Diariamente das 15h às 22h.
Contactos: 808 237 327; 210 027 159
SOS Estudante
Horário: Diariamente das 20h à 01h.
Contactos: 239 484 020; 969 554 545; 915 246 060.
Voz de Apoio
Horário: Diariamente das 21h à 24h.
Contactos: 225 506 070
AUTORES: Os psicólogos Sofia Gabriel e Mauro Paulino da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense, a qual disponibiliza nos seus serviços consulta especializada de apoio ao luto.
Mauro Paulino – Psicólogo Clínico e Forense
Coordenador da Mind | Psicologia Clínica e Forense
Sofia Gabriel – Psicóloga Clínica
Mind | Psicologia Clínica e Forense
MIND | PSICOLOGIA CLÍNICA E FORENSE
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PALAVRAS-CHAVE: Deathclean; Mitos; Luto; Morte; MIND; Psicologia; Forense; Clínica; Suicídio, Mauro Paulino; Sofia Gabriel