Matérias Perigosas: O Exemplo dos B.V. da Feira (Por Jorge Coelho)

Pela análise do histórico, pode-se considerar que esta temática, em Portugal, está em tudo ligada aos BV da Feira. Iniciou-se através de regulares visitas do alemão Udo Schemellenkamp a Sta. Maria da Feira e à formação, por este ministrada, na Escola Nacional de Bombeiros (ENB), na Federação de Bombeiros do Distrito de Aveiro (BDA) e no Corpo de Bombeiros da Feira. Assim se iniciou a divulgação de conhecimentos deste âmbito junto de vários elementos de Comando e Bombeiros, sendo que centenas tiveram esse privilégio.

A localização do meio VPMA dos BV da Feira é sem dúvida bem conseguida na estratégica nacional. Sta. Maria da Feira conta com um excelente acesso a rodovias importantes, conduzindo à rápida projeção desta força. Considere-se o risco implicado pelo transporte rodoviário de matérias perigosas (AE1, A29, A32, EN01, EN109, entre outras) o transporte ferroviário e o transporte aéreo-marítimo, assim como a existência de importantes pólos industriais na região norte e centro do país, destacando o Complexo Químico de Estarreja e os portos marítimos de Aveiro, Leixões e Viana do Castelo.

Este meio específico dos Bombeiros Voluntários da Feira, VPMA.01 CB0107 BVFeira, está dotado de equipamentos de intervenção diferenciada, com capacidade para fazer reconhecimento, identificação, avaliação, monitorização de substâncias/matérias perigosas assim como tamponamento, contenção, trasfega, descontaminação e EPI´s de diferentes características e níveis. Deste facto resulta o elevado custo financeiro da sua manutenção e da cíclica substituição de equipamentos. 

Os BV da Feira contam com o conhecimento, a competência e a experiência resultante das múltiplas resoluções de incidentes na região norte e centro do país. Os Bombeiros que constituem o grupo, obtiveram formação interna específica (parte destes com Udo S.) e são alvo de formação contínua e de aperfeiçoamento, obtidas pela frequência de ações ou cursos na Força Aérea Portuguesa (FAP) e Escola Nacional de Bombeiros.

Assim o veículo, os seus equipamentos e principalmente os Bombeiros da Feira, têm como objetivo fazer parte da solução na resolução de acidentes com matérias perigosas, enquanto complemento aos meios existentes no Teatro de Operações, constituindo uma força especializada integrante do setor funcional. 

Excetuando-se o Algarve, a distribuição de meios para controlo ambiental parece ser adequada ao território nacional, tendo como referência o praticado na Europa. Os meios dos Bombeiros Voluntários da Feira, Bombeiros Sapadores de Lisboa, Coimbra e Setúbal fazem parte da rede existente e descrita na DON da ANEPC.

Mais recentemente, e pela leitura das redes sociais, verifica-se a existência deste tipo de meio nos Bombeiros Sapadores do Porto, Leiria e Viana do Castelo.

A problemática provocada pela pandemia “Covid19” e a necessidade de descontaminar espaços, implicou o recurso a meios das Forças Armadas, nomeadamente do Exército e Guarda Nacional Republicana (EUPS-GNR), mas também de Bombeiros e outros. Além da ausência de critério neste tipo de ações, foi observada a resolução de casos e a difusão de práticas desta área, mas também a constatação de que as intervenções aconteceram sem controlo qualitativo. A formação de Matérias Perigosos em Portugal fica e ficou sobretudo sob a responsabilidade da Escola Nacional de Bombeiros (ENB). Destacam-se os cursos de controlo de acidentes com materiais perigosas (CAMP), de formador, First Responder Awareness (FRA), First Responder Operacions (FRO) e importância atribuída à formação da temática ao longo do tempo, mas sobretudo uma oportunidade de melhoria.

A distribuição de formadores no território pode constituir um elemento a quem recorrer para a resolução de sinistros que envolvam matérias perigosas, pois são mais conhecedores da disciplina e, na qualidade de consultores, poderão proporcionar uma melhor avaliação da Techinician, estes últimos ao abrigo da norma da NFPA. Regista-se aqui uma oscilação na situação, conforme descrito na conclusão obtida na reunião de peritos que teve lugar no Europarque em Sta. Maria da Feira, em 2019, no âmbito das Jornadas Internacionais de Matérias Perigosas dos Bombeiros da Feira.

Para concluir, aproveita a circunstância para afirmar a disponibilidade do Corpo de Bombeiros da Feira para partilhar conhecimento e experiência, ministrando ações de formação ou de sensibilização, sobretudo nas áreas da Segurança Individual e 1.ª Intervenção dos Bombeiros ou Operacionais no Teatro de Operações (TO) da população, salvaguardando a vida humana e animal e também do Ambiente.

Saiba mais em : DEATHCLEAN

Autor: Jorge Coelho – Comandante dos B.V. da Feira.

Matérias Perigosas DEATHCLEAN

É bombeiro desde os 14 anos de idade e foi militar da Força Aérea Portuguesa. Enfermeiro gestor, especialista em médico-cirúrgica. Pós graduação em gestão da emergência ENB/ANEPC.

** Este artigo faz parte integrante da revista BioHazMag lançada em outubro de 2021.

PALAVRAS-CHAVE: Deathclean; Risco Biológico; Matérias Perigosas; Equipamento de Proteção Individual; Formação; Bombeiros.